Entre serras avistamos o nosso Vale em contato com a tentativa de racionalizar o movimento: “De onde vem a dança?’. Movimentando, rememorando e entendendo o que o corpo nos conta, sentimos sobre a magnitude de mover infâncias, memórias, embalar criações outras.
Era um domingo quente o dia 28 de abril de 2024, na esquina da Rua Viscondessa de Castro Lima, no centro da cidade de Lorena. Mesmo cedo, às 10h00 da manhã, os corpos chegavam
Era dia de Incubadora – Encontro para Pesquisas e Segunda Mostra de Artes do Corpo “Para Mover Espaços”, e a primeira tertúlia foi Entre Serras, em um profundo e íntimo momento de condução de uma prática da Layla Mulinari, acionando as experimentações encontradas, desenvolvidas no desenrolamento desta pesquisa. Corpos aquecidos e preenchidos de sensações e percepções de um processo que age a muitas etapas.
Corpos pertencentes às memórias, afetos e mentes das pessoas do nosso Vale, se encontraram com o chão da sala maior da Casa de Cultura, embalados ou ninados ou conduzidos ou agitados ou inspirados pelas sonoridades da Ligia Kamada, cantora, produtora musical, compositora e artista multimídia, que é partícula integrante deste projeto, e tecia com Layla o final da aula de Eutonia e movimento, em consonância com corrente daquele instante que se alongava no tatame coletivamente.
O que seguiu foi uma partilha valiosa que demarcou o encerramento desse projeto dedicado à construção de um vídeo dança cartográfico, um solo de Layla embalado por sonoridades de saberes de pessoas que alimentam suas pesquisas com arte nesse território e imagens de fortes paisagens do nosso Vale. Nessa roda de compartilhamento de saberes pessoas falaram sobre as percepções daquele momento que acabara de se dar e do todo já vivenciado nesse ínterim da laboração do Entre Serras. Recebemos em nossos ouvidos palavras abundantes que revelavam e doavam os prismas desse processo. E o que desponta, de repente, são perguntas excitantes que dão continuidade infinda ao manejo de sensações e entendimentos.
– Eu não sentia meu corpo como artista e muito menos cogitava ser mãe de artista.
– Eu tive a oportunidade de viajar para lugares com promessas de paisagens incríveis, mas nada se comparava ao Vale.
– Quando eu estive fora do meu lugar aqui, eu compreendi através da falta o valor que o Vale tem pra mim.
– Essa abertura para essa possibilidade de descobrir o belo dentro de mim e conseguir fazer com que isso emanasse para fora me trouxe contatos muito importantes que a tempo estavam distantes.
– Meu corpo tinha o Vale
– O corpo ocupa espaço
O tempo se moveu junto com o correr das horas e esse dia de movimentos internos e externos seguiu. Após o almoço, no início das luzes da tarde, tivemos o encontro de duas atividades, o Vale em Contato – Fala e Palestra Interativa e a Roda de Conversa “De onde surge a dança?”. Éramos mais de 30 pessoas reunidas no jardim do interior da Casa de Cultura de Lorena, bailarinos, artistas múltiplos, alunas da Espaço Expressão, elenco da Espaços E. Cia de dança e coletivo de artistas Mover Espaços. O bailarino Luan Fonseca dá destaque para a importância do encontro e o quanto ele é necessário para o processo de desenvolvimento da dança. Layla cita que a dança é corpo em movimento e material de estudo e pesquisas constantes sobre modos de refletir nosso ser no mundo, os processos coletivos de tessituras de afetos, sobre sua potência política. O Kadu Alves segue este momento partilhando sobre o trabalho afetivo, duradouro e íntimo que realiza em parceria com a Layla, nas experiências de contato, improvisação em dança e que esse processo é constante. Rick Moura, bailarino da Espaço E. cia de dança e coletivo Mover Espaços, relembrou e compartilhou com os que se aproximam nos tempos atuais e estavam na roda, a experiência dos primeiros contatos após as restrições da pandemia, ocorrida no 1° Vale em Contato, em 2021, ele cita que as danças se deram como um renascimento. O evento que se deu devido à premiação recebida via ProAc – realização em Dança no Estado de São Paulo naquela ocasião.
– Veio a pesquisa do resgate da forma orgânica de pensar que vai além das técnicas. – finalizou.
E trazendo mais uma fala orgânica como no momento em que estamos narrando, a Fernanda Ribeiro, aluna da Espaço Expressão e integrante do grupo de pesquisa “Em estado de poesia” nos deixa essa partilha:
– Estar no corpo, sentir camadas e tecidos e o ar, repetir, repetir. E de repente esse movimento vira algo e… A mão é uma mão que dança.
E essa mão que dança nos conduziu precisamente para a Vivência aberta de Educação Somática e Jam de Contato Improvisação, de volta à sala maior, no tatame que esperava o movimento dos corpos, conduzidos de maneira respeitosa e segura. Movimentos sublimes, arcos e dedos dos pés. Durante o percurso, entradas do som que movia também os corpos, foi criado naquele espaço e tempo por Ligia Kamada, compartilhando seus saberes, sua arte e seu fazer musical no momento presente. Esse momento foi dedicado mais uma vez para ações dos fazeres e pesquisas “Entre Serras”.
A costura de palavras que une a tessitura deste acontecimento alinhavou para um arremate deste ponto colocado pelo Guilherme, referenciando o precioso Daniel Munduruku, também morador dessa cidade, Lorena e que muito já contribuiu para as pesquisas do coletivo:
– A infância é um lugar que pisamos a vida toda.
Então essa costura nos levou direto à camada seguinte, do momento Mover Infâncias, com os movimentos genuínos, organizados e espontâneos das crianças alunas da Espaço Expressão e crianças diversas que visitaram o espaço nesse momento. Junto aos adultos, um espaço de troca encantador se deu, porque no solo “desse chão”, dos trabalhos sobre infâncias, moram as pesquisas mais profundas de Layla, que insiste em facilitar caminhos para que todos do coletivo tenham experiências e continuem produzindo trabalhos para e com crianças.
Com o cair da tarde, a princípio do anoitecer, as performances da Espaço E. Cia. de Dança visitaram, abriram, permitiram, todos os cômodos do Solar do século XIX e se encontraram pessoalmente, corpos em movimento, com a obra de arte criada naquele instante em questão pelo artista Paulo Ozik, um grafite dos movimentos dos projetos Vale em Contato, Entre Serras e Estado de Poesia, se fundiram nas danças performativas pela casa e no grafismo do artista.
E assim caminhamos para a noite, retornando aos nossos interiores, carregados de afeto, movimento e trocas.
Por Geovana Mara
Chegamos em mais uma etapa do projeto “Entre Serras”!
Após um ano desde o início do projeto, nesta semana celebramos a entrega dos relatórios e desdobramentos do nosso percurso até aqui. O material completo em vídeo, segue agora com a intenção de participar de eventos e festivais, alguns trechos dele continua sendo disponibilizado em nossas redes sociais (@corporentreserras). E de certo ainda aparecerá em muitas das próximas ações que faremos através da Mover Espaços.
Fica o convite para apreciar esses percursos de vídeo dança com a gente. E o nosso agradecimento a todos os artistas e espectadores que se juntaram a nós durante esse caminho. Foi lindo!
📌 “Entre Serras: mover, viver e compartilhar práticas criativas” é um projeto audiovisual desenvolvido por @laylamulinari e realizado pelo Governo de São Paulo via Secretaria de Cultura e Economia Criativa, através do ProAC Editais 44/2022.