Da pele ao espaço interior do corpo, do espaço interior à pele que transborda e contorna o movimento no espaço em relação…
Em 2011, iniciei uma formação que transformou meu ser educadora, terapeuta do corpo, artista, integrando as poéticas nutridas nessas camadas de corpo às quais estava me reconectando na época. A eutonia foi e é transformadora em mim, e essas temáticas: pele como limite, contorno, corpo como conteúdo, camadas de integração com o mundo, contato, movimento e presença, ganharam mais espaço em minhas pesquisas com a dança.
Anos depois a pós-graduação em linguagens e poéticas da dança, as aulas de video-arte e tecnologias, integrava as necessidades destacadas durante a pandemia: novas maneiras de registrar pesquisas, as mídias, modos outros de comunicação, vias para estabelecer contato e reflexões, espaços para se guardar e “reconectar memórias”. Ali, eu iniciava o interesse e um certo prazer no ofício de mediar poéticas passadas em novos formatos possíveis. Os estudos em terapia ocupacional voltaram a ser um amparo em algumas instâncias, nos estudos sensoriais de corpo, por exemplo. Os aprofundamentos sobre o ser que dança e suas sutilezas, as micro sensações e percepções, a produção de estéticas a partir desse conteúdo que comunica, revela, desvela, esconde e provoca fruição, ganharam força de interesse em mim.
Foi na pós que refleti sobre o tema “camadas” e aquela tecnologia apresentada: a plataforma Zoom como um espaço de contato, conteúdo, atravessamento e transmissão de linguagens possíveis, os vídeos, os autorregistros, as tentativas de compreensão do mover da dança que não sabe o que é e está a acontecer no corpo, no exercício da presença e que poderia ser transformado em matéria audiovisual artística, tocante e sensível.
A possibilidade das tecnologias atuais oferecerem também experiências de contato com o mundo, se tornaram pesquisas emergentes para minhas práticas atuais. No entanto, num movimento sem pretensões, nascia uma pessoa que se inicialmente se autocuidou e silenciou seus tormentos nas práticas de auto registro, autopoiesis, em documentações cartográficas, na atenção mais presente nos signos que emergiam das práticas que oferecia. Naquela época (2021 e 2022) a natureza do Vale do Paraíba, a minha casa, um pequenino apartamento na cidade de Lorena onde eu vivia só, recém-saída de um casamento, as conexões com um curso que criei para o formato online – as Jornadas Mover Espaços – foram inspirações, estratégias de força e resistência, resiliência e muita, muita nutrição significativa para o momento e sim, foram se tornando poéticas que eu passei a compartilhar.
Os estudos sobre sinestesias, sensorialidades e contato, que sempre foram parte do meu trabalho no dia a dia, antes da pandemia eu não havia experimentado num formato audiovisual remoto. Continuei a pesquisar sensações, “algo contido dentro de algo” que se revela ao outro como possíveis perspectivas de fruição, apreciação e percepção a partir do formato remoto. E hoje, nas fendas dos dias eu atuo seguindo nessas intenções, mesmo tendo retornado com as ações com corpos presentes, fisicamente compartilhando o mesmo espaço físico e temporal. Entendo esse fazer, uma pesquisa importante para mim e talvez importante para manter-se compartilhada.
Eu queria pesquisar as sonoridades do meu entorno, na natureza, enquanto eu me movia. Eu queria observar de fora as pausas e tormentos do meu corpo ao se mover com o vento, no silêncio das vozes humanas enquanto os sons de pássaros me embalavam, as experiências sensoriais e sinestésicas, as vozes de outras amigas pesquisadoras sussurrando temas de dança em poemas, que moviam vitalidade em mim quando eu unia essas cartografias em uma célula audiovisual experimental. Eu queria e quero manter meus estudos em dança ouvindo e vendo esses matérias.
Eu, como pesquisadora de Contato Improvisação, eutonia, dança contemporânea, apreciadora e movedora dentro e com as culturas populares do meu entorno no Vale, estava a rabiscar nos cadernos, proposições e edições que pudessem resguardar memórias do que naquele tempo, edificava saúde em mim e também em pessoas que participavam das práticas. Outras pesquisas e temas me embalaram e embalam até hoje e vou compartilhar aos poucos por aqui.
Algumas perguntas surgiram e ainda pulsam: como desenvolver diferentes processos de apreciação e fruição de conteúdos artísticos por meio das mídias disponíveis? As tecnologias disponíveis podem ser também um campo possível de “tocar” as camadas sensíveis do corpo? Não sou uma expert em produtos audiovisuais portanto, para mim, nada está dado. Estou a arriscar organizar algumas cartografias desse processo vivido Entre Serras e para isso nessa fase do trabalho convidei várias figuras que estão a me auxiliar nesse processo de liga, tessitura e texturas. Thayná de Castro é uma delas, Ligia Kamada é outra, Dili (Gigliola Mendes), Nathalia Scherer dentre outras figuras, são poetizas do corpo cujo as vozes ressoam.
Deixo aqui nesse blog as primeiras/últimas palavras para narrar esse tempo que não se esgota, mas dita um movimento de vida-morte-vida, para o pré-lançamento do vídeo arte “Corpo Entre Serras”. Um projeto que parte da busca de mapear, pesquisar, aprender, atualizar, criar e compartilhar os “moveres” e as “artesanias criativas” realizadas por artistas que integram linguagens diversas, genuínas e autorais na região do Vale do Paraíba.
O vídeo aqui disponível ainda é um teaser, um pré-lançamento, do que está por vir e em breve o material completo estará disponível em nossas redes sociais, site e YouTube.
📌 “Entre Serras: mover, viver e compartilhar práticas criativas” é um projeto audiovisual desenvolvido por @laylamulinari e realizado pelo Governo de São Paulo via Secretaria de Cultura e Economia Criativa, através do ProAC Editais.


